Todos conhecem a história de um menino que foi criado na selva por macacos, que acaba se tornando mestre em segurar e se balançar em cipós. Alguns pensaram no Mogli e outros no Tarzan, certo? O que eu queria mesmo ver era o tal do Tarzan fazer o que eu e meu irmão fazíamos.
A gente sempre ia pra igreja nas quartas feiras, e quando agente dava sorte de não conseguir pegar a vã, que virou moda durante um tempo, agente voltava de lá de ônibus. O ônibus era uma selva mais difícil de enfrentar do que a sela do Tarzan do Mogli nem se fala.
Aquelas onças que apareciam de vez em quando nos desenhos, e que nos faziam ficar tensos e gritar para nossos heróis se desviarem dos ataques mortais delas, eram as velinhas. O macaco chefe chato, que vive infernizando a vida de diversões deles, eram o cobrador e vez ou outra o motorista. O senhor bonzinho, por mais incrível que pareça era mesmo um senhor bonzinho. A gente entrava naquele emaranhado de árvores, também conhecido como pernas, e ficava gritando um pro outro pra não nos perdemos no meio daquela mata fechada.
Mas o mais divertido, mais do que se perder e se achar aos berros dentro da selva, era quando a selva sumia, pra ser mais claro quando todos desciam e restavam apenas eu minha mãe e meu irmão dentro do ônibus e vez ou outra uma onça reclamona. Faltavam apenas quatro pontos, e estes eram os pontos mais emocionantes da nossa história, o clímax de nosso episódio semanal, esperado desde o começo do dia:
- HORA DE BALANÇAR NOS CANOOOOS.
Lá íamos nós Tarzan e Mogli balançando de barra em barra, umas vezes um caia mais logo se recuperava, outra vez um de nós se arriscava a pular de uma barra pra outra e dava conta, mas quando chegava na rótula... Aí a coisa ficava séria. Lembro-me muito bem, e essa é uma das melhores memórias que tenho, do dia em que balançávamos de lado a lado com o movimento da rótula meu irmão não aguentou segurar nos canos e se soltou. Caiu e se agarrou em minhas pernas e neste ponto nós dois já gritávamos um ao outro: “NÃO LARGA, NÃO LARGA", precisávamos cumprir nossa missão pendurados até o ponto final, e em meio a gritos o ônibus freou fortemente e nós dois caímos transformando os gritos em risos.
"Que tempo bom que não volta nunca mais", um tolo disse isso. Basta ter essas pessoas desse tempo bom e senta-las pra tomar uma boa xícara de chá, ou café depende da preferência, que este tempo volta rapidamente para que possamos revivê-lo e refazê-lo, e claro que assim que reunidos nós teremos mais uma história pra contar.