Escorregar na área de casa com só um pouco de sabão muita
água e meu irmão pra me acompanhar era muito bom. Mais que isso, é lendário. As
coisas que achamos que não nos fara falta quando crescermos são as que mais nos
marcam. E lá estávamos nós novamente (e em terceira pessoa):
Aqueles mesmos dois garotos de sempre. O magricela branquelo
espalhava sabão pela área enquanto o moreno gordinho esfregava o sabão com a
vassoura. Após alguns minutos neste ritual de água, sabão e vassoura, eles
tinham o resultado esperado.
-ESPUMA, gritavam
os dois enquanto se jogavam de barriga na área, esta já não mais verde depois
de toda aquela esfregação.
Os dois pegavam distância da área e se jogavam em velocidade
máxima, se jogavam de barriga, de peito, de ponta, de cóccix, de cabeça e
acreditem, por mais inusitado que possa parecer se jogavam dando mortais, os
dois. Isso era o mais impressionante até o momento, mas tudo estava para mudar.
Tudo estava maravilhoso, os giros descontrolados, as
manobras inusitadas e até mesmo as batidas que eles combinavam em uma espécie
de luta em que os dois se chocavam de frente um com o outro durante o rápido
deslize. Mas a velocidade elevada já não agradava mais o irmão mais velho, que
teve mais uma de suas ideias geniais:
-Tira toda a roupa
que agente vai voar nessa área.
E o segundo irmão não tirou, e realmente dessa vez a ideia
tinha sido genial. Nunca tinha experimentado tamanha velocidade. Pena que a
ideia tinha um furo, e o furo era na verdade uma fissura feita no portão, pela
qual alguns dos seu amigos olhavam os dois. E o irmão mais novo, vestido e
protegido só tinha a rir do primeiro irmão que estava com a lua virada para o
portão no momento em que ele abriu.
Ele deve ter sentido vergonha (muita vergonha), eu não sei
sou só o contador da história, mas enquanto vestia a roupa e ouvia a chacotagem
de seus amigos ele já planejava uma vingança maléfica e nada limpa. Mas isso,
bem... é outra história.